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3 doenças mentais perderam força nas empresas em 2023, diz pesquisa de healthtech. Veja quais são.

Por outro lado, outros transtornos ganham o cenário corporativo e apresentam aumento de diagnósticos, segundo pesquisa realizada pela Conexa, plataforma digital de saúde


doenças mentais

A saúde mental virou tema de discussão nas empresas e na sociedade. Essa atenção atual, apresentou consequentemente um aumento dos casos que, entre vários fatores, foi estimulado pelo conhecimento da existência desses transtornos mentais, afirma Erica Maia, médica psiquiatra e gerente de saúde mental da Conexa:


“Quando a gente tem mais estudo e conhecimento sobre a doença, a tendência é o número de casos aumentar. Mas obviamente que outros fatores, como disposição genética e contexto social podem gerar mais diagnósticos que identificamos como transtornos mentais”.


A pesquisa realizada pela Conexa, plataforma digital de saúde físico e mental, considerou o número de atendimentos de telepsicologia dos planos de saúde de mais de 70 empresas. O período analisado foi entre janeiro e julho deste ano, em comparação com o mesmo período de 2022. Além do aumento relacionado ao número de atendimentos (foram 3000 atendimentos em 2022 e mais de 7000 atendimentos em 2023), o estudo destaca o aumento nos diagnósticos de transtornos mentais.


Em 2022, 35 em cada 100 pacientes eram diagnosticados com transtornos mentais. Já entre janeiro e julho deste ano, o estudo mostra que 40 pacientes em cada 100 foram diagnosticados com algum tipo de doença mental, após passarem por consultas de telemedicina.


“É preocupante, mas os dados não surpreenderam; as pessoas, no mundo todo, estão adoecendo mentalmente, conforme já havia alertado a OMS (Organização Mundial de Saúde) em relatórios próprios divulgados recentemente”, afirma Maia.


O que pode causar o aumento de doenças mentais no trabalho?


De acordo com o último Relatório Mundial de Saúde Mental 2022, publicado pela organização, cerca de 1 bilhão de pessoas tem algum tipo de transtorno mental.


“Muitos ambientes de trabalho, com alta competitividade, pressão por produtividade e resultados, insegurança no cargo e excesso de carga horário, contribuem para esses diagnósticos”, diz Maia.


O estudo também mostra que não foram todas as doenças mentais que cresceram neste último ano.


“O nosso cérebro é puramente social, depende da conexão humana para ser saudável. Uma vez que a relação humana flui bem, é comum que doenças mentais percam forças, como é o caso da depressão e da síndrome do pânico,” afirma Maia.


Quais foram as doenças mentais que mais se destacaram no estudo?


O estudo da Conexa aponta que houve crescimento nos primeiros sete meses deste ano comparados com os de 2022 nos seguintes diagnósticos:

  • TDAH: 35%;

  • Esgotamento: 30% (que na nova classificação internacional de doenças é reconhecido como burnout);

  • Ansiedade: 24%.

Por outro lado, de acordo com o estudo, estresse e depressão diminuíram:

  • Estresse: -90%

  • Pânico: -36%

  • Depressão: -25%

“Apesar de serem analisadas individualmente, essas doenças se relacionarem e uma delas ser a causa. Isso porque você pode ter dois ou três fatores, como disposição genética e aspectos sociais, que podem ajudar você a desenvolver duas ou três doenças mentais ao mesmo tempo. Não tem como colocar uma régua de qual doença pode desencadear a outra, mas é possível avaliar por meio da consulta com o especialista com qual ou quais delas você está,” diz Maia.


O que diferencia essas doenças mentais?


TDAH


O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é uma condição que geralmente se inicia na infância e, se não diagnosticada e tratada de forma precoce, pode evoluir para a vida adulta. Se isso ocorre há prejuízo na capacidade de organização e planejamento, tendendo a comprometer a produtividade no ambiente do trabalho.


“Essa condição não tem cura, mas o tratamento pode melhorar a qualidade de vida das pessoas. Os pacientes podem até ficar assintomáticos o que dá a eles uma produtividade similar a quem não tem essa condição”, afirma a médica.


O aumento de casos é analisado pela Conexa como um diagnóstico procurado pelos próprios pacientes. Além disso, os próprios médicos estão mais conscientizados quanto à possibilidade de diagnosticar o transtorno no paciente adulto.


“Apesar de ser um diagnóstico que acontece tradicionalmente na infância, e que pode ou não perdurar na vida adulta, existe o TDAH secundário, ou seja, pode ser secundário a outras doenças como ansiedade, depressão e esgotamento,” diz Maia.


Burnout


A pesquisa identificou também aumento na suspeita de burnout em 30% mais pacientes das empresas clientes da healthtech do que no ano passado. A análise foi feita de janeiro a julho de 2023 e igual período de 2022.


A partir da nova Classificação Internacional de Doenças (CID-11), que foi publicada no ano passado, o burnout foi compreendido como resultado de esgotamento causado pelo ambiente do trabalho. Por este motivo a doença também está mais presente nos diagnósticos dos médicos.


“Diferente de qualquer outro transtorno mental, o burnout é exclusivamente um diagnóstico ocupacional, ou seja, que surge no trabalho. Tanto que para fechar o diagnóstico, só um médico do trabalho ou um perito do INSS que tem a condição assegurar o diagnóstico”, diz Maia.


Ansiedade


Outra doença que merece destaque é a ansiedade (24%). Esta também pode estar ligada diretamente ao ambiente corporativo.


“Insegurança nas relações do trabalho e preocupação em garantir a renda familiar mensal contribuem para o aumento de diagnóstico”, afirma Erica.


Esse movimento já era esperado, afirma Maia, ainda mais após a pandemia que corroborou para o agravamento do transtorno mental no geral:


“Os transtornos de ansiedade têm relação com sensação de insegurança, preocupação, medo e incerteza, ou seja, com o modo que estávamos vivendo na pandemia. O resultado já era esperado após esse período que desafiou tanto a nossa saúde mental,” diz Maia.


Síndrome do Pânico


O fator do desamparo, de não ter quem recorrer, pode ser um gatilho para desenvolver a síndrome do pânico. Mas os dados do estudo da Conexa neste ano surpreenderam. Em comparação com 2022, neste ano, os diagnósticos de pânico diminuíram 36%. A médica Erica Maia diz que o principal fator pode ser o relacionamento:


“Em comparação com o período da pandemia, as pessoas não estão mais desamparadas, estão conseguindo se comunicar mais com as famílias e se socializar mais com amigos. Existe uma conexão social maior, um senso de comunidade maior com a volta da realidade pós-Covid. Isso certamente pode ter ajudado a diminuir os casos de pânico por conta desse senso de comunidade, de que você tem a quem recorrer, seja um familiar ou amigo.”


Depressão


A depressão segue a mesma linha da síndrome do pânico, segundo a médica. Isolamento contribui muito para diagnósticos de depressão, tanto que em comparação com o ano passado o estudo mostra que o número de atendimentos diminuiu 25%.


“Por que estamos apostando tanto no social? Porque foi uma disrupção muito grande, considerando os períodos antes, durante e pós pandemia. E como o cérebro é puramente social, estar próximo de quem você ama e confia pode ajudar a desenvolver menos depressão,” diz Maia.


Estresse


O estresse teve uma diminuição significativa de casos neste ano em comparação com o número de 2022: a redução foi de 90% desse diagnóstico.


“Não dá para cravar o que pode ter acontecido. Uma das hipóteses é que as empresas estejam com mais ações de saúde mental e isso esteja refletindo na diminuição do estresse".


Há dois tipos de estresse, segundo a médica: o estresse agudo (de uma hora pra outra) e o estresse crônico (ao longo de meses, cumulativo), afirma Maia, que ressalta que neste levantamento não foi feita essa diferenciação. Além disso, a médica explica como essa doença pode levar ao burnout:


"O estresse crônico, não tratado, é o tipo que pode levar ao esgotamento, já o agudo não. E ambos podem estar presentes no contexto ocupacional. O agudo normalmente de forma reativa a algum contexto (cumprimento de metas no fim do ano, por exemplo). E o crônico mais relacionado à cultura e a estrutura organizacional (o efeito dele é cumulativo)".


Qual retorno as empresas podem ter com os cuidados de saúde mental?


Cuidar da saúde mental dos funcionários é uma preocupação atual também das empresas, uma vez que as corporações que investem em acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico de seus funcionários registram menos afastamentos, faltas e absenteísmo.


De acordo com estudo da Harvard Business Review, o retorno sobre investimento (ROI) da saúde mental nas empresas é de R$ 3,68 para toda a equipe e de R$ 6,30 para os gestores.


Mas cuidar da saúde mental é antes de tudo uma decisão individual. Em outro estudo recente realizado também pela Conexa mostra que 85% dos funcionários sentiram melhora na vida pessoal e, 80%, na profissional após as consultas de telepsicologia.


“A gente só fala que é uma doença quando tem sofrimento e prejuízos na vida, seja no trabalho, na carreira ou nos relacionamentos. Cuidar da saúde mental é um autocuidado, mas que precisa de ajuda, seja de familiares e empresas,” afirma Erica.



Fonte: Exame

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